Psicóloga dá dicas de como falar sobre o câncer de mama para os filhos

Outubro Rosa e a Secom traz uma entrevista com a psicóloga da Secretaria Municipal de Educação sobre o desafio de contar aos filhos que a mãe tem câncer de mama

Com o objetivo de contribuir neste Outubro Rosa, a Secretaria de Comunicação conversou com a psicóloga da Secretaria Municipal de Educação, Caroline Chiarelli.

Mulheres com câncer de mama têm, além dos desafios que a própria doença impõe, outras ações delicadas a colocar em prática como lidar com os sintomas, definir sobre o tratamento até contar aos familiares e, especialmente, aos filhos.

Muitas pessoas podem estar passando por este desafio agora. São muitas as perguntas que surgem e dúvidas de como lidar com a situação. Para ajudar, a psicóloga Caroline respondeu a alguns questionamentos. Confira.

- Como um pai, mãe ou parente próximo a uma criança deve contar a notícia sobre um câncer de mama na família? Essa forma varia dependendo da idade da criança?
Os filhos têm todo o direito de saber quando alguém de sua família está doente, pois algumas mudanças irão ocorrer na dinâmica familiar e até crianças pequenas percebem quando algo não está muito bem. Logo, meu conselho inicial é: não oculte esta informação. Quando os filhos estão informados do que está acontecendo, os familiares possibilitam que eles tirem suas dúvidas, expressem seus sentimentos e manifestem suas emoções. Assim, poderão ser amparados e confortados sempre que necessário.
É normal não saber o quê e como expor uma notícia de câncer de mama na família. Pensando nisso, vou citar algumas dicas para este momento. Ressalto que a forma que você vai falar muda de acordo com a idade de seu filho.
• Primeiramente, escolha uma ocasião que você esteja mais preparado (a) emocionalmente para conversar sobre o assunto. Vai ser difícil de qualquer forma, mas se estiver num dia em que está mais tranquilo (a) e confiante, irá ajudar neste processo.
• Escolha um momento ideal e um lugar tranquilo para conversar com os seus filhos.
• Se você tem um filho (a) de menos idade e outro (a) já adolescente, de preferência por conversar primeiro com o (a) mais velho (a), podendo expor de forma mais clara a situação; e em um segundo momento, falar a criança menor, acompanhado (a) do (a) seu filho (a) adolescente para ele (a) também oferecer apoio.
• Explique de maneira clara e verdadeira. A linguagem adequada para crianças e adolescentes é diferente. Para crianças menores, fale com simplicidade e de forma mais concisa, escolhendo palavras que já façam parte do vocabulário deles.
• Não precisa falar todos os pormenores na primeira conversa. Responda as perguntas à medida que elas forem surgindo.
• Se seu filho (a) fizer alguma pergunta que você não saiba responder, pode expressar que ‘não sabe’ e que poderão descobrir a resposta juntos.
• Demonstre atitude de confiança, otimismo e esperança a respeito da doença e do tratamento, pois a criança poderá se espelhar em você e se sentirá mais segura e confortada.
• Não pense que você tem que ser uma supermãe ou um superpai em todo o processo! Você pode (e deve) expressar seus medos, incertezas e também chorar quando sentir vontade. Dessa forma, estará mostrando que é humana e vulnerável como qualquer outra pessoa e, acima de tudo, estará oportunizando que seu filho (a) possa fazer o mesmo quando sentir vontade e não esconder seus sentimentos achando que tem que ser forte também.

- Quais são os comportamentos mais comuns após contar a notícia?
Algumas mudanças psicológicas provavelmente ocorram, como por exemplo, maior ansiedade, insegurança, estresse, ataques de raiva, choros repentinos e injustificados, medos recorrentes, preocupações constantes e crenças de incapacidade e culpa.
Crianças menores são mais propensas à somatização. Quanto menor a capacidade de comunicação da criança, maior a capacidade do corpo representar o sofrimento. Podem surgir alergias, problemas alimentares, digestivos, dores de cabeça e problemas de pele, por exemplo.
Não podemos fantasiar que os filhos não serão afetados emocionalmente frente a uma situação completamente nova em suas vidas. Compreender que alguns comportamentos e sentimentos disfuncionais podem ocorrer por um medo até então desconhecido, ajudará os familiares a confortarem e apoiarem seus filhos.

E como contar para as crianças que alguém está doente?
Deixar a criança de fora de todo esse processo não é uma boa decisão. A criança percebe que algo difícil está acontecendo e a rotina não está normal. Tentar esconder pode deixá-la ainda mais confusa, insegura e ansiosa.
Para dar a notícia é necessário que os pais estejam mais fortalecidos emocionalmente para passar maior segurança. Para as crianças menores não é preciso dar detalhes que ela possa não entender. Priorize explicar a doença em uma linguagem adaptada à idade, as consultas mais constantes com os médicos, a queda do cabelo e algumas mudanças físicas. Para crianças bem pequenas, não é preciso falar que a mamãe está com câncer, podendo falar que é um problema de saúde e que em alguns momentos ela vai estar mais cansada, desanimada, com enjoo e que pode cair o cabelo e que isso não é culpa de ninguém e sim do problema de saúde.
Responda os questionamentos que surgirem e não se surpreenda se passar a ver uma criança acolhedora e protetora com sua mãe, pois muitas crianças conseguem assimilar a situação e se adaptar as mudanças mais rapidamente.

- Após contar ou começar algum tipo de tratamento, a criança pode notar alguma mudança no comportamento ou aparência da mãe. Como responder às perguntas que a criança fizer?
É perturbador acompanhar o sofrimento de uma mãe com os efeitos colaterais do tratamento do câncer. Explicar antecipadamente o que pode acontecer (com informações prévias que o médico especialista irá repassar) e tentar suavizar esta questão, ajudará a criança a se preparar para este momento que ela vai perceber de qualquer forma. Aproveite para dizer à criança que eles podem ajudar e como ajudar, dando a elas o sentido de pertencimento e capacidade.

- Quais os comportamentos que a criança pode ter que surge como alerta para buscar ajuda profissional?
Comportamentos irão mudar, pois a dinâmica familiar e rotina irão mudar! Então ter certa oscilação no humor, um pouco mais de insegurança ou medo é normal. O parâmetro pode ser quando se percebe extremos ou excessos, sejam eles para um comportamento mais rebelde e destrutivo, quanto para um comportamento de introspecção e isolamento. De qualquer forma, a orientação de um profissional é um bom colaborador.

- Os pais ou responsáveis devem avisar o professor para que este também saiba entender o momento da criança?
Com toda certeza, pois alguns comportamentos disfuncionais podem aparecer na escola, bem como cair o rendimento escolar. Além do mais, professores e amigos podem proporcionar alívio e compreensão, bem como suavizar as preocupações.
Compete à escola expandir a empatia, a benevolência, a flexibilidade, o apoio e o amor.

- Mensagem final
As mães com câncer de mama ficam muito abaladas física e emocionalmente e muitas vezes acabam omitindo seus medos e angústias referentes à doença e ao tratamento. O suporte e acolhimento de todos os familiares são primordiais para ajudá-las a atravessar por todo o seguimento do tratamento.

> Encontre-nos no Facebook